Informação, memória urbana e biodiversidade em Brasília

A obra Informação, memória urbana e biodiversidade em Brasília tem por objetivo dar visibilidade a resultados do Projeto Saberes do Cerrado, realizado desde 2013 no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Ibict. Esse projeto desenvolveu outras atividades em parceria com Jardim Botânico de Brasília e Universidade Federal de São Carlos, que tiveram formas de divulgação específicas. Aqui se reúnem trabalhos de pesquisa dedicados à história da transformação da paisagem e da ordem territorial decorrente da criação de Brasília. Era necessário, porém, traduzir, no formato de uma publicação de acesso aberto, as análises processadas sobre as contraposições entre saberes e práticas, que foram sendo reconhecidas na pesquisa sobre as diver- sas estratégias de ordenamento territorial aplicadas ao DF. Havia o propósito também de explorar historicamente os problemas da memória urbana e científica em Brasília, após 60 anos de existência da cidade capital, e de apresentar novos elementos para a leitura das interfaces entre urbanização e conservação do cerrado, não só com foco na diversidade das paisagens, mas também nos saberes em dissonância que deram fundamentação aos processos de mudança ou de proteção às áreas naturais.

Os capítulos que seguem neste volume buscam responder a essa problemática. O capítulo 1, A dimensão pública da cidade de Brasília: memória e informação, entre o urbanismo modernista e a conservação do Cerrado, elaborado por Fátima Tavares, acompanha a trajetória intelectual de Lucio Costa e de Ezechias Paulo Heringer e tem por foco o olhar de ambos sobre a transformação das paisagens do Cerrado e a recriação da natureza urbanizada, considerada a dimensão pública da arborização; O capítulo 2, O projeto civilizatório de Brasília e as tecnologias digitais: entre a informação e a memória, de Fátima Tavares, dá atenção ao problema da disponibilidade da informação e da documentação sistemática dos registros relacionados a duas ordens de questões, a que remete à memória da paisagem recriada para a ordem urbana, em imagens aéreas, e a memória científica que aponta para a perda da dimensão ecológica e da biodiversidade na relação da cidade com os territórios remanescentes nativos. Essa última faceta da memória urbana é apreensível nos registros científicos da biodiversidade, com dados já digitalizados e disponíveis. As duas questões dependem cada vez mais da gestão integrada de serviços de informação e da gestão territorial compartilhada entre agentes e instituições, capazes de oferecer alternativas aos processos vigentes. O capítulo 3, Brasília: práticas urbanísticas e as paisagens do Cerrado, de Fátima Tavares e Bruno Nakagomi, trata das questões associadas aos conflitos entre saberes, que respaldam práticas urbanísticas e práticas conservacionistas, considerando o papel da atuação pública quanto à dinâmica populacional e à determinação normativa vinculada à gestão do território, que deveria respaldar as configurações espaciais urbanas e as zonas protegidas. Por meio da utilização de um SIG, avalia-se a tendência ao insulamento das áreas protegidas em condições próximas de uma situação limite de comprometi- mento paisagístico e de perda da biodiversidade.